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Pouca chuva e suspensão da operação carro-pipa do Exército fazem poder público reforçar alerta sobre reservatórios baixos, em Lagoa Seca

Pouca chuva e suspensão da operação carro-pipa do Exército fazem poder público reforçar alerta sobre reservatórios baixos, em Lagoa Seca

DECOM/PMLS

Sol forte, vegetação seca, açudes vazios e a esperança plantada nos olhos do agricultor que visualiza o céu esperando a chuva cair. Detalhes que poderiam ser de um nordeste distante ou até mesmo cena de roteiro de filme, mas é a
realidade encontrada nos dias atuais.

A ausência de uma das principais fontes da vida nos reservatórios e outros locais de abastecimento tem preocupado a população e autoridades locais. Para se ter uma ideia, nos dez últimos meses deste ano choveu 723,40 mm em Lagoa Seca, isto é, 24,17% a menos se comparado ao mesmo período de 2023, segundo a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer). Até agora, outubro registrou o pior índice, com apenas 2,1 mm.

Toda essa situação levou a Prefeitura de Lagoa Seca a decretar – novamente – situação de emergência por causa da estiagem ocasionada pelo baixo índice pluviométrico em 2024. O documento, que foi publicado recentemente, leva em consideração alguns pontos como a existência de dois terços dos habitantes que residem na zona rural – cerca de 70% da população – dependentes de cisternas para coletar água potável para uso e o prejuízo nas atividades agrícolas em diversas áreas da produção diante da falta de água.

Outra preocupação tem rondado a administração pública: a suspensão da operação carro-pipa do Exército. De acordo com a Defesa Civil, a interrupção desse abastecimento está sobrecarregando a gestão e sendo sentida há meses por quem necessita do benefício. “O que tivemos em Lagoa Seca, e os números estão aí para comprovar, foram chuvas esparsas, ou seja, de pouca intensidade, diferentemente da chuva concentrada, quando ela é intensa. Além disso, sem a operação carro-pipa feita em parceria com governo federal ficamos limitados e sem atender nosso povo. Antes, a zona rural contava com apoio de dez carros-pipas”, contou George Rufino.

Já Noaldo de Andrade, secretário de Agricultura e Abastecimento, falou da alta demanda e o que o governo municipal tem realizado para sanar o problema.

“Só neste ano, conseguimos despachar 2.300 casos relativos a pedido desse líquido tão precioso, por meio da nossa própria frota usando caminhões locados. Mas é preciso dizer que não dá para avançar muito pois se não tem água do céu, o lençol freático naturalmente não dá vazão. A gente tirava água de oito poços que enchiam os carro-pipas por dia, e no momento estamos com quatro. Por isso buscamos alternativas para sairmos desse sufoco”, comentou o gestor.

Não há ao certo uma totalidade exata de quantas famílias estão prejudicadas com a falta de chuva e, sobretudo, sem o abastecimento da operação carro-pipa do Exército na zona rural. No entanto, são contabilizadas ao menos três mil cisternas espalhadas denominadas como públicas, particulares e construídas em unidades escolares.

O agricultor José Capim, de 63 anos, conhece bem os desafios para sustentar a família quando o assunto é a água que não chega. Morador da comunidade Caxangá, a casa dele fica bem perto de uma cisterna comunitária que estava sendo abastecida pelo Exército.

“Tem algum tempo que a gente não ver uma gota de água, a sorte foi George [Defesa Civil] que mandou essa benção. E todo mundo aqui vai se virando, tirando uns poucos baldes e se ajudando; não dá para pagar caro num carro-pipa”.

A prefeitura tem executado medidas a fim de contornar a situação, ofertando serviços como construção e recuperação de barreiros e barragens de pequeno e médio porte. Apesar de não chover o esperado, ação como essa já ajudou o agricultor a suprir suas necessidades e na produção rural. Do último ano para cá, mais de 500 horas de maquinário construíram ou revitalizaram algum tipo de reservatório, beneficiando diretamente cerca de 50 famílias.

Os números são da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e tendem a aumentar, uma vez que ainda não foram fechados e computados no controle da pasta.

Enquanto isso, o criador de gados Eduardo Lourenço, de 32 anos, do sítio Retiro, apela para a fé e acredita que dias melhores vão surgir. “Nessa minha idade nunca vi uma seca desse jeito. Fica complicado porque a gente se desdobra para arrumar água pro consumo e os bichos que criamos. O que nos resta é a fé e pedir que Deus olhe por nós”, acredita.